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Relação de Cálcio e Magnésio – A Origem da Polêmica

Porque se fala tanto sobre a relação de cálcio e magnésio no solo?

Cálcio e Magnésio são dois elementos essenciais para desenvolvimento de culturas. As suas extrações do solo em kg/ha superam a retirada de fósforo (P). Por isso é legitima a preocupação de tornar estes dois elementos disponíveis para absorção das plantas.

Existe, na agricultura, um conceito de solo ideal ou solo balanceando. Este conceito preconiza que, para maximização das produções das culturas o fator mais importante é a relação entre íons de Ca, Mg e K e não, necessariamente, a sua quantidade absoluta no solo.

Derivados deste princípio de solo ideal, existem inúmeras interpretações numéricas, são elas:

• Solo ideal deve ter cátions negativos dos solos ocupados por 65% de Ca, 10%de Mg, 5% de K e 20% de H ou a relação ideal entre sítios deve ser Ca:Mg:K 13:2:1;
• Solo ideal deve ter as porcentagens de 50 a 75% de Ca, de 6 a 12% de Mg e de 2 a 5% de K ou a relação ideal entre Ca:Mg  3:1 a 7:1

Qual é a origem do conceito de solo ideal e da “relação cálcio magnésio” ideal?

Este conceito é bastante difundido pelo mundo, inclusive no Brasil. Muitos laboratórios de análises de solo usam este conceito, para identificar insuficiência e/ou excesso de Ca, Mg e K no solo. Com o crescimento da agricultura de precisão no Brasil, este conceito voltou com a força para recomendação de dosagem de corretivos e condicionadores de solo.

Mas qual é a origem deste conceito? Qual a base cientifica disso?

Os primeiros trabalhos sugerindo uma relação entre Ca/Mg no solo e a produtividade datam de 1892.

Na década de 40, com estudos de Bear e Prince (1945) e Bear e Toth (1948), surgiu o conceito de solo ideal em relação a saturação dos principais cátions. Os estudos de Bear foram baseados na avaliação de análises de 20 solos do estado de New Jersey nos Estados Unidos (ISSSO MESMO, SOMENTE 20 SOLOS) e eles encontraram que PARA CULTIVO DA ALFAFA os melhores solos deveriam ter sítios negativos, dos solos ocupados por 65% de Ca, 10%de Mg, 5% de K e 20% de H para IMPEDIR A ABSORÇÃO DESNECESSÁRIA DE POTÀSSIO pela cultura.

Nos seus estudos Bear e colaboradores buscavam na verdade um solo ideal, que permitisse altas produtividades de alfafa com inibição de consumo de potássio acima do necessário para manter estas produtividades.

A solução mais barata para inibir a absorção de potássio (K), encontrada por eles, foi saturar os solos com cálcio, que possui antagonismo muito grande com potássio.

Na mesma década, Albrecht se dedicava a estudos de nodulação. Ele chegou à conclusão de que o cálcio era mais importante para nodulação de que o próprio pH. Albrecht também sustentou o conceito ideal de solo proposto por Bear. E foi o primeiro grande popularizador deste conceito, que consagrou no seu livro The Alberecht papers. Vol.1: Foundation concept.

Outro grande popularizador da ideia de solo balanceado foi Kinsey na década de 1990, com seu livro Hands on Agronomy. Kinsey, formado em marketing e filho de agricultores, foi bastante influenciado pelo Alberecht e popularizou muito o conceito do solo ideal.

A tabela abaixo mostra, em ordem cronólogia, os estudos e publicações que fundaram e difundiram o conceito de solo ideal.

Ano

Pesquisador

Hipótese

Cultura

Solos

1892

Loew

1901

Loew e May

relação Ca:Mg ideal de 4 a 5, mas com prejuízo somente em relações extremas

Aveia

1916

Lipman

Não existe base para definir efeito da relação Ca/Mg

Revisão bibliografia

1933

Moser

Não existe relação entre Ca/Mg e produtividade

1937

Albrecht

Nodulação não depende da acidez só tem relação com concentração de Ca

Soja

Argilas artificiais

1939

Albrecht

Fixação do nitrogênio não depende do pH em si, mas do suprimento do Ca.

Argilas artificiais

1945

Bear

Solo ideal: saturação de 65% de Ca, 10% Mg e 5% K

Alfafa

20 solos New Jersey (EUA)

1948

Bear, Toth

Sugestão de solo ideal com 65% de Ca, 10% Mg e 5% K para diminuir retirada excessiva de potássio pela alfafa.

Alfafa

20 solos New Jersey (EUA)

1959

Graham

Solo ideal: de 65 a 85% de Ca; 6 a 12% de Mg e de 2 a 5% de K

1975

Albrecht

Crescimento das plantas não é limitado pelo pH ou acidez

Soja

Argilas artificiais

1981

Baker and Amacher

Solo ideal: 60 á 80% Ca,10 á 20% Mg, 2 á 5% K.

1991

Kinsey* and Walters

Solo ideal: 60 á 70% Ca, 10 á 20% Mg, 3 á 5% K, 1% Na, 10 á 15 H, 2á 24% de outros cátions

Popularizou conceito no livro Hands on Agronomy

Fonte: Adaptado de Kopitke (2007)

Infelizmente, as conclusões de Bear, que serviram exclusivamente para caso específico estudado por ele durante 8 anos, foram erroneamente transformadas em relação milagrosa de cálcio, magnésio e silício que supostamente leva ao aumento de produtividade. As pesquisas recentes comprovam que esta relação não interfere, nem na produtividade, nem na nutrição, podendo inclusive vir a ser danosa nos solos de CTC baixa.

Bibliografia:

Kopittke, P. M., and N. W. Menzies. 2007. A Review of the Use of the Basic Cation Saturation Ratio and the “Ideal” Soil. Soil Sci. Soc. Am. J. 71:259-265. (veja artigo original)

Bear, F. E.; Toth, S. J. Influence of calcium on availability of other soil cations. Soil Science: January 1948 V 65 Issue pg 69-74 (veja artigo original)

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